terça-feira, 31 de agosto de 2010

Orgasmo Feminino - Perder a cabeça


O quarto gira, o corpo treme, perde-se a noção do tempo e do espaço. Diz-se então que se atingiu o cume de uma relação sexual de qualidade - o orgasmo. É como perder a cabeça. E até as mulheres mais reservadas a perdem...

De facto, assim é. Nesse momento, o cérebro está mobilizado por inteiro para atingir o prazer, esquecendo todas as suas outras faculdades. É o momento da irracionalidade por excelência, capaz de fazer perder o controlo à mulher mais reservada.

Sem vergonhas. Pelo menos sem a vergonha de há algumas décadas, quando uma mulher que expressasse desejo sexual era tida como doente. Se a mulher manifestasse o seu prazer ao companheiro, era ele próprio que a rotulava de depravada. O orgasmo feminino era mesmo classificado como patológico e tratado clinicamente. Ou não fosse a
reprodução o fito exclusivo da relação sexual... para as mulheres.

Felizmente, a mulher libertou-se destes fantasmas. Conquistou o direito ao prazer sexual, ao orgasmo!

Mas, afinal, o que é o orgasmo? A nível fisiológico, caracteriza-se por contracções rítmicas e involuntárias, em resposta ao incremento máximo da tensão sexual. Trata-se de uma descarga de toda a energia sexual acumulada.
Na mulher, essas contracções concentram-se no clitóris e na vagina, mas estendem-se a todo o corpo, geralmente sob a forma de tensão muscular, acompanhada de taquicardia, sudação, formigamento e respiração acelerada. Em seguida, acontece um relaxamento associado a alívio e bem-estar.

Esta é a fase mais objectiva do orgasmo, no demais o fenómeno é subjectivo. Não existem duas mulheres absolutamente iguais (nem as gémeas o são) e o orgasmo não é excepção. Observa-se, pois, uma enorme variação na intensidade, na duração e na frequência da experiência orgásmica. Aliás, a experiência do prazer é tão variada no universo feminino que pode ou não ser acompanhada pelo orgasmo. Ou seja: a mulher pode não experimentar um
orgasmo na relação sexual sem que isso corresponda à ausência de sensações de prazer.

Muitos sexólogos resistem, por isso, a definir o que é o orgasmo feminino, por entenderem que é uma experiência muito subjectiva, uma experiência única para cada mulher. No que coincidem é no entendimento de que se trata do ponto máximo de excitação e de bem-estar da mulher consigo própria. No mais recusam padrões, sob pena de haver mulheres que não se sintam retratadas, pensando - erroneamente - que são privadas da capacidade orgásmica.


Desmistificar o orgasmo
Na cultura actual, o sexo está muito genitalizado, demasiado circunscrito à penetração, esquecendo uma premissa básica: a de que o ponto de partida de toda a actividade sexual satisfatória é o contacto íntimo - desde o olhar, o sorriso ao toque.

A sexualidade deve ser vista como uma expressão lúdica, uma viagem por um universo de sensações em que cada parceiro explora o corpo do outro. O sexo como fonte de prazer é muito mais do que o coito, na medida em que o contacto corporal pode proporcionar uma vivência erótica muito superior à da penetração.

Mas o facto é que, apesar da revolução sexual, permanecem os mitos. Já não o de que a mulher não deve exibir o seu prazer, mas o de que o orgasmo é obrigatório, por ele se medindo a qualidade de uma relação. Hoje em dia, para agradar ao parceiro a mulher 'tem' de ter orgasmo. E, se não o atinge, finge, tal é a tirania.

Muitas vezes, a ansiedade é tanta que a mulher cai numa armadilha e, em vez do prazer último, o que alcança é a insatisfação. Colocar demasiada expectativa no orgasmo é, pois, contraproducente, até porque se um dos elementos do casal não o sentir isso não significa que haja algo errado. Muitas vezes, o que se passa é que o casal necessita de um período de adaptação, de tempo para se conhecerem melhor, para se exporem, para aprenderem a estar um com o outro.
Isso pode acontecer quando se inicia um novo relacionamento: a experiência anterior não é simplesmente transferida, pelo que a intimidade deve ser construída.

A ansiedade do desempenho é, apenas, um dos factores que podem impedir o êxtase total: cansaço físico, curto espaço de tempo dedicado às carícias preliminares, local não adequado, pressa, consumo de álcool e drogas também são desencorajadores.


A importância de desdramatizar

Cada mulher é única em matéria de excitação sexual. Mas, independentemente da subjectividade das sensações associadas ao orgasmo, há mulheres que sentem dificuldade em atingi-lo. Fala-se então de anorgasmia, uma situação muitas vezes relacionada com a anatomia e com a técnica utilizada para atingir o orgasmo.

De acordo com algumas investigações, 75% das mulheres necessita de estimulação directa do clitóris para atingir o clímax, não sendo as relações vaginais o melhor caminho para o conseguir. Um estudo recente efectuado nos Estados Unidos mostrou mesmo que o orgasmo clitoridiano é o primeiro sentido pelas mulheres, fundamental antes de alcançarem o orgasmo vaginal. Aliás, 73% das mulheres inquiridas não precisava sequer de penetração para ter uma vida sexual
satisfatória.

Órgão extremamente sensível, o clitóris parece desempenhar, assim, um papel primordial na sexualidade feminina, podendo a sua estimulação prévia à penetração constituir uma boa 'terapia' para as mulheres que sentem dificuldade em atingir o orgasmo.

Mas há também problemas físicos que limitam a capacidade orgásmica da mulher: transtornos locais, como a cistite e a vaginite, têm esse efeito, o mesmo acontecendo com doenças mais crónicas, como o hipotiroidismo, a diabetes mellitus, esclerose múltipla. O consumo de determinados fármacos, como antidepressivos e tranquilizantes, também pode afectar negativamente a auto-imagem sexual da mulher e inibir o orgasmo.

Estas são, no entanto, situações minoritárias. A ansiedade antecipatória é mesmo uma das principais causas da anorgasmia, pelo que a 'terapia' recomendada é o diálogo. Que pode ser com um terapeuta, evidentemente, mas que deve começar em casa, na própria cama, na condução do parceiro, dizendo-lhe quais as suas preferências.
Esse diálogo enriquece a sexualidade, previne mal-entendidos e rupturas e ajuda a desfazer a ideia feita de que "não há mulheres frígidas, há é homens incompetentes".

Aprender sobre o próprio processo de excitação, libertando-se dos padrões sexuais existentes, também é meio caminho andado para a conquista do prazer total e final. Que, para umas mulheres, é uma experiência dramática e avassaladora, e para outras bastante subtil.

(Artigo da revista Farmácia Saúde do número 58 de Julho de 2001)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O Estranho: Desvio ou Normalidade?


O "estranho" sempre tomou uma certa atenção da humanidade. Durante alguns anos o que era estranho era excluído, depois passou a ser tratado, e hoje em dia, há uma nova tendência: o experimentar. Como designar que algo é estranho? No que diz respeito a sexualidade, existe o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV), um manual científico da saúde mental, nele é descrito as disfunções sexuais (aquilo que não funciona bem) e as parafilias (desvio), este manual assume padrões comportamentais, partem de um sistema universal e aplica num contexto particular as classificações confirmadas pela estatística.

Encontramos aqui o estranho; o que não funciona bem, instigam as pessoas a quererem ser normais, a procurarem ajuda para conseguir um equilíbrio psicológico, visto que a disfunção sexual causa angústia pessoal ao indivíduo e ao parceiro. A normalidade aqui aparece como objectivo.

E o desvio? As parafilias, fantasias e práticas sexuais específicas que um indivíduo necessita para atingir a excitação e o orgasmo. Foi a própria parafilia que impulsionou o nascimento da sexologia no fim do séc. XIX.

Mas o que é feito hoje do desvio? Quem realmente tem uma parafilia geralmente não procura ajuda porque tem a percepção de que é normal. Então sobra um resto, o desvio do prazer e das práticas radicais de experimentação. Aquilo que dantes era patologia, hoje surge como uma variante de experiência e busca de novas sensações de prazer, as pessoas procuram parafilias específicas e simulam relações sexuais como se as tivessem, serão eles ?desviados? ou estamos caminhando para um novo conceito de sexualidade?

Érica Morbeck, Sexóloga

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Sexo: sim! Tabús: não, obrigada!




Em pleno século XXI, falar sobre sexo abertamente ainda é um tabú. E quando o tema é a sexualidade feminina ou o direito da mulher ao prazer sexual nem se fala!


Na década de 70, fizeram-se fogueiras de soutiens e apregoou-se a emancipação feminina... Quarenta anos volvidos, são muitas as mulheres a limitar a vivência sexual em pleno. Porquê? As pressões sociais e culturais e o desconhecimento do próprio corpo estão, muitas vezes, na base da insatisfação sexual feminina.

Fonte de imensas inibições, a questão sexual, as suas disfunções e respectivos tratamentos são frequentemente colocados num plano secundário, pondo assim em jogo a intimidade e a sua importância para o bem-estar e felicidade globais!

domingo, 8 de agosto de 2010

Sexualidade em pleno

“A saúde sexual é a integração dos aspectos somáticos, afectivos, intelectuais e sociais do ser sexuado, de maneira a causar um enriquecimento da personalidade humana, da comunicação e do amor.” (Organização Mundial de Saúde)

A insatisfação sexual feminina está, muitas vezes, mais ligada a factores sociais e culturais e à falta de conhecimento do seu próprio corpo do que propriamente a disfunções do foro físico ou psíquico. Por tudo isto, reunimos um painel de oradores muito variado, que inclui profissionais da psicologia clínica e sexologia, fisioterapia, ginecologia, cirurgia plástica, terapia corporal, desenvolvimento pessoal, farmácia, enfermagem...

Venha desmistifcar todos os tabús e aprender a viver a sua sexualidade em pleno!

Tome nota: dia 18 de Setembro de 2010, das 13h45 às 19h30, na Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa. Bilhetes €30,00, à venda através da Ticketline