quinta-feira, 30 de setembro de 2010

"Vocês são poderosas porque são mulheres"

Swami Mahalayananda, dinamarquês a viver há três anos em Portugal, foi o primeiro homem a subir ao palco para falar sobre a sexualidade feminina na Conferência do dia 18 de Setembro na Escola Superior Tecnologias da Saúde. Antigo economista, há quinze anos abraçou o tantra e o Yoga Natha e até hoje não se arrependeu.

Esclareceu rapidamente o que não é tantra “todos sabem algo sobre tantra, mas ninguém sabe. Por isso há tantos cursos com a palavra tantra. Quando ninguém sabe, tudo pode ser! Muitos pensam que o tantra é sexo avançado com velas, e nós, tantras, chamamos a isso sexo avançado com velas.”

Para os tantras, o ser humano é uma cópia à pequena escala do universo. Cada um tem um elemento do outro dentro de si, “é este homem-mulher dentro de cada um que faz com que encontre o seu parceiro.”

Swami declara inúmeras vezes que a sexualidade vai muito além dos órgãos, “o feminino tem que ver até com a alma. Nos tempos modernos estamos focados no animal. Separamos a sexualidade da espiritualidade no Ocidente. Sexualidade é demoníaca, principalmente a feminina”. Uma das explicações para tal é que a própria mulher fez um problema disso, completa.

De seguida brinca com a relação do casal “quando um homem encontra uma mulher espera que ela não mude mas ela muda. A mulher espera que ele mude e ele não muda”. Acrescenta a explicação da veracidade desta anedota: “o homem caracteriza-se por uma consciência imóvel, enquanto a mulher se caracteriza pela flexibilidade e movimento.”

Dirigindo-se às mulheres, conta que o tantra consiste em as mulheres encontrarem o poder de ser mulher, porque hoje em dia as mulheres tentam ser homens e só quando agem como homens é que terão sucesso. Contudo, no tantra é o oposto, a mulher tem de ir dentro de si e viver a sua natureza. Swami afirma presenciar na sua escola casos de desabrochamento, de abertura de consciência e de um caminho transformador. “Porque é que a mulher teve de suprimir a sua sexualidade? Porque a sexualidade feminina é muito superior”

“A média nos homens são 5 minutos, nos dinamarqueses são 4.49 segundos, quando sabemos que para uma mulher precisa de 20, 25 minutos para ter o orgasmo completo ela vai precisar de vários homens”, brinca. Então, segundo Swami, o nosso poder transformativo está assente na nossa sexualidade não perder energia, que acontece quando um homem tem ejacula ou a mulher tem a menstruação.

No tantra não se perde energia e a cada nível da nossa consciência podemos ter um orgasmo, nos níveis mais altos um orgasmo em êxtase. E acrescenta que a razão pela qual as mulheres têm orgasmos pobres é porque só têm cinco minutos para o criar, dez numa boa noite.

Mas atalha que não está tudo perdido: “no tantra ensina-se os homens a controlar a sua energia sexual”. E brinca: “Boas notícias: a ejaculação só é precisa para fazer bebés.”

E questiona o porquê do homem se desinteressar após ejacular, respondendo que é pelo facto do homem perder a energia. A solução apontada por Swami é que homem tem de aprender a separar o orgasmo da ejaculação. “O homem pode ter os orgasmos que quiser se souber controlar.”

Dá dicas para o homem e a mulher atingirem orgasmos prolongados “é importante o homem saber-se controlar apesar de ser complicado quando uma mulher tem um orgasmo longo pois é muito excitante. “Há uma altura que não dá para separar o parceiro e o orgasmo. O orgasmo estado de iluminação. O que se pensa no orgasmo? Nada. A experiência do ego desaparece. Do ponto de vista tântrico apegamo-nos muito, temos experiência de quem nós somos. Aquele momento de felicidade em que amamos o mundo todo. É isto um orgasmo prolongado”.

Revela ainda que o segredo para uma relação duradoura é o casal se concentrar no amor e não nos órgãos sexuais.

Na recta final inumera alguns prós da prática do tantra: não há casos de cancro da próstata, a menstruação reduz, quase desaparecendo logo no primeiro mês, o peito cresce uma copa, por guardar energia a menopausa aparece mais tarde, menos celulite, menos rugas e mais tardiamente. Diminui ainda a nossa necessidade de dormir e de comer. Homens e mulheres parecem 10 a 15 anos mais novos e dá o exemplo de May West.

Remata com uma citação de uma executiva dinamarquês que pratica yoga “sou poderosa porque sou mulher, porque sou feminina”. Swami termina: “vocês são poderosas porque são mulheres”.



Ana Sofia Santos

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O que o corpo feminino tem para contar

Radmila Jovanic, ginecologista há vinte anos a trabalhar em Portugal, discursou na Conferência Sexualidade Feminina sobre como interpretar o corpo feminino e o que ele tem para contar

Segundo a ginecologista Radmila, cada parte do nosso corpo espelha uma inquietação ou um problema mal resolvido, através de uma doença “algo que escondi ou que não resolvi por várias razões”. A médica defende que da psi o conflito ou o luto poderão chegar ao físico, dando exemplos específicos: “os problemas vaginais são desequilíbrios entre o casal. No caso dos ovários, estes remetem para o passado, heranças. A vulva reflecte conflitos de separação ou união, mesmo uma comichão ou uma inflamação pode exprimir problemas de separação."

A especialista afirma que isto acontece porque “somos parciais no que pode ser vivido e na parte que pode ser expressa.” De acordo com Radmila, a vagina pode exprimir a incerteza de se a mulher encontrou o homem certo.

Por vezes a vagina pode exprimir igualmente a atitude no trabalho. O colo do útero é a chave de reconhecimento se é o homem certo e exprime igualmente a falta do parceiro sexual certo. Continuando o seu fio condutor, Radmila associa à trompa a transformação do padrão familiar e aos ovários a conflitos de perda, “os ovários reagem com formações de quistos quando a mulher sofre uma perda, morte, ou não chorou o suficiente”.

A segunda parte da sua apresentação focou-se no parceiro masculino, “quem é o parceiro certo? É mais importante o que vemos naquela pessoa”, conclui. “Pela minha história ele tem o potencial para ser pai do meu filho”, se vê nele características do pai ou de uma figura paterna. Outra questão levantada pela médica é a segurança, protecção que a mulher procura no parceiro: “quem tem o território identificado e seguro?”

Deste modo, Radmila defende que o bem-estar dos órgãos está directamente relacionado com a vivência e bem-estar do casal. Assim, define como essencial: a partilha e o respeito do espaço, “a vagina determina e dá autonomia para o homem entrar na vida da mulher”.

Também Radmila trouxe o ying e o yang para a discussão, quando mencionou a espiral da vida e o que por nós é construído e herdado. Realçando o nosso poder de transformar o herdado. “Apenas no presente transformamos a realidade herdada, transmitindo em melhores condições”.

Radmila termina a pedir que essas transformações sejam no sentido da pessoa ganhar mais confiança, respeito, gratidão, amizade, amor e fé, "criando paz no mundo".



Ana Sofia Santos

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A líbido feminina



"A libido - o desejo ou o apetite sexual – na mulher é resultado de reacções do organismo que sofrem influência de factores como idade, menopausa, gravidez, amamentação, stress, luto, insatisfação no trabalho, desemprego, desentendimentos com o parceiro, divórcio e aumento do peso, entre outros.

Isto porque o sexo, assim como as emoções, é comandado pelo cérebro. Então, para atingir uma sexualidade plena, é preciso sentirmo-nos bem também em outras áreas.

Um dos principais factores que afectam directamente a libido é o aumento do índice de massa corporal (IMC), devido à alimentação rica em gorduras, associada ao sedentarismo. Primeiro porque pode mexer com a auto-estima, com a forma como a pessoa se vê e se aceita e, depois, influencia na diminuição dos índices de testosterona, associado ao prazer.

A gravidez, por exemplo, pode tanto diminuir quanto aumentar o desejo sexual. Além das mudanças hormonais, conta muito o estado psicológico da grávida: como está a lidar com a novidade; se a gestação foi programada e se ela se sente amada e desejada pelo companheiro. A experiência de gerar uma vida, associada a um suporte afectivo e emocional, vai fazer com que a mulher se sinta plena, contribuindo para aumentar a libido."

Angelita Corrêa Scardua, psicóloga clínica.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Vaginismo


Por muito tempo, a mulher e a sua sexualidade foram, ao longo da história, alvo preferencial de alterações de conceito. Em todas as épocas históricas a sexualidade feminina foi considerada deficitária ou excessiva, havia uma variância entre "mulher frígida" e "mulher ninfomaníaca", sendo-lhe deste modo atribuído e perpetuado um carácter disfuncional.

Depois da Segunda Guerra Mundial, os trabalhos de Kinsey, Masters e Johnson e Kaplan contribuíram na designação da sexualidade normal e patológica, criando assim classificações sobre as Disfunções Sexuais masculinas e femininas.
A Sexologia sofreu várias evoluções no séc. XX e em 2001 foi revista as classificações das disfunções sexuais femininas (DSF), ficando definida da seguinte forma:

• Desordem do desejo sexual: o desejo sexual hipoactivo é caracterizado por uma persistente e recorrente deficiência/ausência de fantasias e pensamentos sexuais e/ou receptividade à actividade sexual, causando angústia pessoal. A desordem da aversão sexual é descrita como uma fobia e aversão ao contacto sexual permanente e persistente do parceiro causando angústia pessoal;
• Desordem da excitação sexual: é assinalada como uma dificuldade persistente e recorrente de atingir ou manter uma adequada excitação sexual, causando angústia pessoal, podendo também ser expressa por uma falta de excitação subjectiva, genital (lubrificação) e/ou outras respostas somáticas;
• Desordem orgásmica: é uma dificuldade persistente e recorrente de atingir o orgasmo, podendo ser expressa por uma demora ou ausência da estimulação e da excitação e causando angústia pessoal;
• Desordem da dor: dispareunia, dor persistente e recorrente associada ao coito; vaginismo, espasmo involuntário da musculatura do terço exterior da vagina persistente e recorrente que interfere na penetração, causando angústia pessoal; dor sexual não coital, dor genital persistente e recorrente induzida por estimulação sexual não coital.

A DSF poderá estar associada a experiências de relações sexuais negativas, baixa auto-estima, saúde física e emocional, história de abuso sexual, condições psiquiátricas (depressão), transtorno alimentar e de personalidade, sintomas pré-menstruais, doença neurológica e a processos infecciosos.
Assim sendo, o relacionamento pessoal, inter-relacional, ajustamento psicossocial, auto-estima e auto-imagem, podem influenciar o comportamento sexual e, em combinação, poderá levar ao aparecimento da disfunção sexual.

Na mulher, as causas da disfunção sexual podem igualmente estar associadas às mudanças relacionadas com as fases da vida reprodutiva (puberdade, período pré-menstrual, gravidez, período pós-parto e menopausa). Estas fases apresentam problemas únicos e obstáculos potenciais na sexualidade e também são períodos em que a mulher está mais susceptível a alterações hormonais e de humor.

Em diferentes fases do ciclo de vida da mulher estão presentes preocupações associadas ao decréscimo da actividade sexual (desejo e satisfação). A puberdade pode ocasionar preocupações relacionadas com a orientação sexual e com a probabilidade de uma gravidez indesejada. Na adultícia as preocupações são relacionadas com o período pós-parto, enquanto que na menopausa a mulher sofre mudanças físicas que podem provocar alterações de humor e/ou percepção inadequada sobre o bem-estar, ocasionando um impacto negativo na sexualidade.

Muitas mulheres desenvolvem uma disfunção sexual chamada vaginismo, já citada acima. O vaginismo, para além das causas já referidas, tem uma característica muito particular: a contracção involuntária da musculatura da vagina quando a mulher prevê dor devido ao medo da mesma, sendo que a própria antecipação da dor pode causar dor. Este medo pode gerar fantasias disfuncionais em torno da dor, sendo que a fantasia mais frequente é a da violação, pois as mulheres tendem a associar a dor à violação, tendo sido ela violada na infância ou não.

É um processo cognitivo simples: a mulher acredita que vai sentir dor, começa a sentir ansiedade e foca a atenção na zona genital e no coito. Esta atenção na zona genital vai provocar a contracção da musculatura da vagina, e ocasionalmente de todo o corpo (pernas, abdómen, braços e pescoço). Este comportamento causa ainda mais ansiedade gerando um ciclo vicioso. Esta contracção dificulta e/ou impede a penetração evitando assim a realização do coito sexual. Com a musculatura da vagina contraída, a tentativa de penetração pode causar dor e/ou sensações de desconforto.

Esta disfunção sexual está directamente relacionada com a ansiedade, quase 100% dos casos são de origem psicogénica, pois antes mesmo de começar a relação sexual estas mulheres estão preocupadas com o coito, antecipando e intensificando a ansiedade em torno da sexualidade. Esta ansiedade faz com que a mulher se desconcentre da excitação e do acto sexual, fazendo com que se concentre nas suas dificuldades: os espasmos e a suposta dor.

O vaginismo pode ser classificado como primário, acontece desde do início da vida sexual e secundário, desenvolve-se após a mulher ter experimentado relações sexuais com a presença do coito vaginal. A incidência do vaginismo nas mulheres que procuram ajuda é de 2% a 3%, mas calcula-se que entre 10% a 19% das mulheres sofram de vaginismo mas não procuram ajuda.

Geralmente as mulheres que sofrem de vaginismo têm uma boa resposta sexual a nível do desejo, lubrificação e orgasmo através do clítoris. Muitas destas mulheres até mantêm relações anais frequentes para compensar a falta da penetração vaginal. Esta penetração anal é uma compensação psicológica, pois pode existir a crença de que se a penetração existir o parceiro pode ficar satisfeito e assim evitar a ruptura do relacionamento.

Há mulheres que desenvolvem a disfunção sexual reactivamente aos conflitos conjugais. Geralmente, são mulheres que sentem a relação do parceiro como distante, agressivo, pouco participativo nas tarefas de casa e na educação dos filhos, casais que não possuem uma boa comunicação e que não fazem actividades em conjunto.

As reacções do casal são muito variadas. Alguns não dão importância ao problema, no entanto, outros desenvolvem conflitos a nível conjugal. Os parceiros de mulheres com disfunção sexual geralmente ficam perturbados com a aparente rejeição do acto sexual e podem criar crenças disfuncionais (sentimentos de rejeição, de que a parceira não quer ter relação sexual, que é o causador da disfunção sexual, que não é atraente o suficiente, que a mulher tenta boicotar o acto sexual, que não é capaz de dar prazer à parceira, entre outros) que prejudicam o convívio do casal. é necessário que o casal mantenha uma boa comunicação sobre o problema e que ambos procurem ajuda.

Muitos cônjuges de mulheres sexualmente disfuncionais acabam também por desenvolver algum tipo de disfunção sexual. Frequentemente alguns homens desenvolvem ejaculação precoce, pois transforma o acto sexual num acto rápido para não causar angústia à parceira ou sentir-se evitado por muito tempo, ou desenvolvem disfunção eréctil pois assumem uma postura mais passiva sexualmente influenciado pelas crenças disfuncionais.

É importante que a mulher, ao se deparar com o quadro semelhante ao vaginismo procure um ginecologista para verificar se existe a presença de algum factor orgânico. Se este factor for ausente pode-se então pensar no diagnóstico de vaginismo, que será dado em conjunto com um sexólogo.

Depois de ser diagnosticado a disfunção sexual, o doente deverá procurar um profissional adequado para realizar o tratamento, sendo que no caso do vaginismo, o mais apropriado é o tratamento com o profissional de sexologia. Este sabe avaliar, diagnosticar e traçar um plano terapêutico adequado para o tratamento e cura da disfunção sexual. Geralmente o tratamento para vaginismo tem uma taxa muito grande de sucesso, sendo mais elevada quando o paciente está disposto e receptivo ao tratamento e as aplicações das técnicas terapêuticas.

Éricka Morbeck
Psicóloga clínica, Sexóloga

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O verdadeiro potencial da sexualidade feminina pelo ponto de vista espiritual tântrico


"A sexualidade feminina no mundo moderno tem sido muitas vezes mal entendida e até transformada em algo para vender e até muitas vezes mal utilizada. Tem sido quase totalmente interpretada e apresentada pelo ponto de vista masculino tirando-lhe o seu verdadeiro poder e lugar nas nossas relações e comunidade.

Em muitos aspectos o mundo Ocidental sofre muito devido a isto.

O verdadeiro poder reside nesta diferença e como utilizá-la. Esta arte está quase perdida, mas está e voltar com a popularidade dos ensinamentos clássicos tântricos. Quando entendemos verdadeiramente e harmonizamos a nossa sexualidade torna-se uma força suprema para estabilidade, transformação e verdadeira felicidade."

Swami Mahalayananda



terça-feira, 31 de agosto de 2010

Orgasmo Feminino - Perder a cabeça


O quarto gira, o corpo treme, perde-se a noção do tempo e do espaço. Diz-se então que se atingiu o cume de uma relação sexual de qualidade - o orgasmo. É como perder a cabeça. E até as mulheres mais reservadas a perdem...

De facto, assim é. Nesse momento, o cérebro está mobilizado por inteiro para atingir o prazer, esquecendo todas as suas outras faculdades. É o momento da irracionalidade por excelência, capaz de fazer perder o controlo à mulher mais reservada.

Sem vergonhas. Pelo menos sem a vergonha de há algumas décadas, quando uma mulher que expressasse desejo sexual era tida como doente. Se a mulher manifestasse o seu prazer ao companheiro, era ele próprio que a rotulava de depravada. O orgasmo feminino era mesmo classificado como patológico e tratado clinicamente. Ou não fosse a
reprodução o fito exclusivo da relação sexual... para as mulheres.

Felizmente, a mulher libertou-se destes fantasmas. Conquistou o direito ao prazer sexual, ao orgasmo!

Mas, afinal, o que é o orgasmo? A nível fisiológico, caracteriza-se por contracções rítmicas e involuntárias, em resposta ao incremento máximo da tensão sexual. Trata-se de uma descarga de toda a energia sexual acumulada.
Na mulher, essas contracções concentram-se no clitóris e na vagina, mas estendem-se a todo o corpo, geralmente sob a forma de tensão muscular, acompanhada de taquicardia, sudação, formigamento e respiração acelerada. Em seguida, acontece um relaxamento associado a alívio e bem-estar.

Esta é a fase mais objectiva do orgasmo, no demais o fenómeno é subjectivo. Não existem duas mulheres absolutamente iguais (nem as gémeas o são) e o orgasmo não é excepção. Observa-se, pois, uma enorme variação na intensidade, na duração e na frequência da experiência orgásmica. Aliás, a experiência do prazer é tão variada no universo feminino que pode ou não ser acompanhada pelo orgasmo. Ou seja: a mulher pode não experimentar um
orgasmo na relação sexual sem que isso corresponda à ausência de sensações de prazer.

Muitos sexólogos resistem, por isso, a definir o que é o orgasmo feminino, por entenderem que é uma experiência muito subjectiva, uma experiência única para cada mulher. No que coincidem é no entendimento de que se trata do ponto máximo de excitação e de bem-estar da mulher consigo própria. No mais recusam padrões, sob pena de haver mulheres que não se sintam retratadas, pensando - erroneamente - que são privadas da capacidade orgásmica.


Desmistificar o orgasmo
Na cultura actual, o sexo está muito genitalizado, demasiado circunscrito à penetração, esquecendo uma premissa básica: a de que o ponto de partida de toda a actividade sexual satisfatória é o contacto íntimo - desde o olhar, o sorriso ao toque.

A sexualidade deve ser vista como uma expressão lúdica, uma viagem por um universo de sensações em que cada parceiro explora o corpo do outro. O sexo como fonte de prazer é muito mais do que o coito, na medida em que o contacto corporal pode proporcionar uma vivência erótica muito superior à da penetração.

Mas o facto é que, apesar da revolução sexual, permanecem os mitos. Já não o de que a mulher não deve exibir o seu prazer, mas o de que o orgasmo é obrigatório, por ele se medindo a qualidade de uma relação. Hoje em dia, para agradar ao parceiro a mulher 'tem' de ter orgasmo. E, se não o atinge, finge, tal é a tirania.

Muitas vezes, a ansiedade é tanta que a mulher cai numa armadilha e, em vez do prazer último, o que alcança é a insatisfação. Colocar demasiada expectativa no orgasmo é, pois, contraproducente, até porque se um dos elementos do casal não o sentir isso não significa que haja algo errado. Muitas vezes, o que se passa é que o casal necessita de um período de adaptação, de tempo para se conhecerem melhor, para se exporem, para aprenderem a estar um com o outro.
Isso pode acontecer quando se inicia um novo relacionamento: a experiência anterior não é simplesmente transferida, pelo que a intimidade deve ser construída.

A ansiedade do desempenho é, apenas, um dos factores que podem impedir o êxtase total: cansaço físico, curto espaço de tempo dedicado às carícias preliminares, local não adequado, pressa, consumo de álcool e drogas também são desencorajadores.


A importância de desdramatizar

Cada mulher é única em matéria de excitação sexual. Mas, independentemente da subjectividade das sensações associadas ao orgasmo, há mulheres que sentem dificuldade em atingi-lo. Fala-se então de anorgasmia, uma situação muitas vezes relacionada com a anatomia e com a técnica utilizada para atingir o orgasmo.

De acordo com algumas investigações, 75% das mulheres necessita de estimulação directa do clitóris para atingir o clímax, não sendo as relações vaginais o melhor caminho para o conseguir. Um estudo recente efectuado nos Estados Unidos mostrou mesmo que o orgasmo clitoridiano é o primeiro sentido pelas mulheres, fundamental antes de alcançarem o orgasmo vaginal. Aliás, 73% das mulheres inquiridas não precisava sequer de penetração para ter uma vida sexual
satisfatória.

Órgão extremamente sensível, o clitóris parece desempenhar, assim, um papel primordial na sexualidade feminina, podendo a sua estimulação prévia à penetração constituir uma boa 'terapia' para as mulheres que sentem dificuldade em atingir o orgasmo.

Mas há também problemas físicos que limitam a capacidade orgásmica da mulher: transtornos locais, como a cistite e a vaginite, têm esse efeito, o mesmo acontecendo com doenças mais crónicas, como o hipotiroidismo, a diabetes mellitus, esclerose múltipla. O consumo de determinados fármacos, como antidepressivos e tranquilizantes, também pode afectar negativamente a auto-imagem sexual da mulher e inibir o orgasmo.

Estas são, no entanto, situações minoritárias. A ansiedade antecipatória é mesmo uma das principais causas da anorgasmia, pelo que a 'terapia' recomendada é o diálogo. Que pode ser com um terapeuta, evidentemente, mas que deve começar em casa, na própria cama, na condução do parceiro, dizendo-lhe quais as suas preferências.
Esse diálogo enriquece a sexualidade, previne mal-entendidos e rupturas e ajuda a desfazer a ideia feita de que "não há mulheres frígidas, há é homens incompetentes".

Aprender sobre o próprio processo de excitação, libertando-se dos padrões sexuais existentes, também é meio caminho andado para a conquista do prazer total e final. Que, para umas mulheres, é uma experiência dramática e avassaladora, e para outras bastante subtil.

(Artigo da revista Farmácia Saúde do número 58 de Julho de 2001)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O Estranho: Desvio ou Normalidade?


O "estranho" sempre tomou uma certa atenção da humanidade. Durante alguns anos o que era estranho era excluído, depois passou a ser tratado, e hoje em dia, há uma nova tendência: o experimentar. Como designar que algo é estranho? No que diz respeito a sexualidade, existe o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV), um manual científico da saúde mental, nele é descrito as disfunções sexuais (aquilo que não funciona bem) e as parafilias (desvio), este manual assume padrões comportamentais, partem de um sistema universal e aplica num contexto particular as classificações confirmadas pela estatística.

Encontramos aqui o estranho; o que não funciona bem, instigam as pessoas a quererem ser normais, a procurarem ajuda para conseguir um equilíbrio psicológico, visto que a disfunção sexual causa angústia pessoal ao indivíduo e ao parceiro. A normalidade aqui aparece como objectivo.

E o desvio? As parafilias, fantasias e práticas sexuais específicas que um indivíduo necessita para atingir a excitação e o orgasmo. Foi a própria parafilia que impulsionou o nascimento da sexologia no fim do séc. XIX.

Mas o que é feito hoje do desvio? Quem realmente tem uma parafilia geralmente não procura ajuda porque tem a percepção de que é normal. Então sobra um resto, o desvio do prazer e das práticas radicais de experimentação. Aquilo que dantes era patologia, hoje surge como uma variante de experiência e busca de novas sensações de prazer, as pessoas procuram parafilias específicas e simulam relações sexuais como se as tivessem, serão eles ?desviados? ou estamos caminhando para um novo conceito de sexualidade?

Érica Morbeck, Sexóloga

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Sexo: sim! Tabús: não, obrigada!




Em pleno século XXI, falar sobre sexo abertamente ainda é um tabú. E quando o tema é a sexualidade feminina ou o direito da mulher ao prazer sexual nem se fala!


Na década de 70, fizeram-se fogueiras de soutiens e apregoou-se a emancipação feminina... Quarenta anos volvidos, são muitas as mulheres a limitar a vivência sexual em pleno. Porquê? As pressões sociais e culturais e o desconhecimento do próprio corpo estão, muitas vezes, na base da insatisfação sexual feminina.

Fonte de imensas inibições, a questão sexual, as suas disfunções e respectivos tratamentos são frequentemente colocados num plano secundário, pondo assim em jogo a intimidade e a sua importância para o bem-estar e felicidade globais!

domingo, 8 de agosto de 2010

Sexualidade em pleno

“A saúde sexual é a integração dos aspectos somáticos, afectivos, intelectuais e sociais do ser sexuado, de maneira a causar um enriquecimento da personalidade humana, da comunicação e do amor.” (Organização Mundial de Saúde)

A insatisfação sexual feminina está, muitas vezes, mais ligada a factores sociais e culturais e à falta de conhecimento do seu próprio corpo do que propriamente a disfunções do foro físico ou psíquico. Por tudo isto, reunimos um painel de oradores muito variado, que inclui profissionais da psicologia clínica e sexologia, fisioterapia, ginecologia, cirurgia plástica, terapia corporal, desenvolvimento pessoal, farmácia, enfermagem...

Venha desmistifcar todos os tabús e aprender a viver a sua sexualidade em pleno!

Tome nota: dia 18 de Setembro de 2010, das 13h45 às 19h30, na Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa. Bilhetes €30,00, à venda através da Ticketline